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Celebrar o Natal em muitas localidades do Nordeste Transmontano é regressar às festas da Antiguidade Pagã.

 

As Festas dos Rapazes de Santo Estevão (26 de Dezembro), do Ano Novo ou dos Reis, realizadas no período compreendido entre o Natal e a Epifania, reportam-nos às antigas festas solsticiais. Festas pagãs que, com o tempo, foram cristianizadas e que sobreviveram em harmoniosa convivência com as celebrações cristãs da Natividade.

 

Festa do Velho em Mogadouro

 

Na zona de Mogadouro realiza-se a Festa do Velho, Caramono ou Chocalheiro. Uma actividade que tem o seu início no dia 24 de Dezembro, com as pessoas a concentrarem-se à meia-noite junto da grande fogueira de Natal, que se acende no largo da aldeia.


Antes de se acender o lume, dois rapazes («velho» e «mordomo») percorrem a aldeia para “pedir o cepo” para “a fogueira do menino”. Actualmente com os novos meios de transportes, este «peditório» realiza-se de tractor.

 

Os adereços desta figura emblemática raramente passam de ano para ano e o fato é feito à base de serapilheira, com carapuça, cinto de couro munido de chocalhos, para anunciar a sua presença aos habitantes da aldeia. Esta indumentária completa-se com uma «caramona» talhada em madeira, com dois chifres na testa e uma serpente esculpida que lhe sai da boca.

 

Os “caretos”, “máscaras”, “carochos” ou “chocalheiros” (designações que variam de localidade para localidade) tornam-se seres superiores, mágicos ou proféticos, gozando de uma liberdade quase sem limites, com a faculdade de «castigar» ou criticar.

 

Críticas públicas aos males sociais expurgam a comunidade, purificam-na e preparam-na para o novo ano que se aproxima.
 

Danças, gritos e chocalhadas e críticas sociais institucionalizadas são ritos que o mascarado executa no desempenho das suas funções.

 

Festa de Santo Estevão ou dos Rapazes

 

A festa do Santo Estêvão, também denominada festa dos Rapazes, insere-se no contexto das festas nordestinas realizadas no ciclo dos 12 dias, do Natal aos Reis. Neste período - que engloba o solstício do Inverno - são várias as aldeias que experimentam o tempo festivo destacando-se Grijó de Parada, Parada, Serapicos, Agrochão, Babe, Rio d’Onor e Ousilhão.

 

A festa realiza-se todos os anos, nos dias 25 e 26 de Dezembro e nela toma parte toda a comunidade - homens, mulheres e crianças. A organização é promovida pelos rapazes ou moços da aldeia, de preferência solteiros.

 

Insere-se no âmbito das festas do 1.º ciclo - as festas de Inverno - por estar relacionada com as épocas do ano, com as estações e com os fenómenos meteorológicos que lhe estão associados.

 

A atenção dispensada a este período tem levado ao estabelecimento de relações destas festas, como refere o Abade de Baçal, com «as festas saturnais celebradas pelos romanos durante 5 ou 7 dias, começadas a 17 de Dezembro, em honra de Saturno, com grandes brincadeiras e mostras de alegria». Diz o mesmo autor que às saturnais se agregaram as das juvenais, uma festa que era celebrada pela gente moça no dia 24 de Dezembro com canto bródio e patuscada. Refere também que estas costumeiras atingiram o apogeu na Idade Média na Festa dos Loucos que era celebrada por clérigos de ordens menores, diáconos e sacerdotes durante 12 dias, desde o dia de Natal até ao dia de Reis.

 

Também lhe chamavam Festas das Calendas, por serem celebradas principalmente no dia 1 de Janeiro e ainda Festa dos Subdiáconos.

 

Símbolos cristãos com carga profana

 

Nestes rituais, a população da região transmontana também realiza festas onde o «pão» é colocado em destaque. Pão que aparece na sua forma mais artística, a rosca, em forma de estrela (evocando o sol, a estrela mais brilhante que se pretendia homenagear); rosca de pão pela qual correm os rapazes (os principais participantes na festa), pela qual dançam e lutam corpo a corpo.

 

Rosca que é entregue, como prémio, ao vencedor; rosca de pão que se incorpora na liturgia da missa e da procissão, se leiloa no adro da igreja ou na praça pública, se parte, se reparte e se come preceitualmente por todos. Vestígios das festas do Inverno no Nordeste Transmontano.

 

Outro elemento importante nas tradições natalícias são as festas da música tradicional que brota da gaita de foles ou da flauta pastoril, ritmada pelo tamboril e pelo bombo.

 

Nos momentos solenes da festa, sagrados ou profanos, nos rituais da liturgia cristã ou na dança dos pauliteiros, a música é essencial porque a tradição ainda é o que era e não há festa sem gaiteiro.

 

Fonte: Agência Ecclesia

Tradições pagãs de regresso ao Nordeste Transmontano

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